segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Quando abri a internet vi que comemora-se hoje o Dia da Bailarina. Quis escrever algo a respeito... decidi começar dando um Google pra ver o que se fala sobre esse ser sem pereba e sem irmão zarolho. Daí, 99% das imagens que surgiram foi de meninas parecendo princesas de contos de fada, de tutu cor de rosa, com sapatilhas de ponta, magras, elásticas e em posições que desafiam a gravidade. Ainda curiosa, peguei o empoeirado e mofado Aurélio daqui de casa. E me diverti: ele me disse que bailarina é o feminino de bailarino (que, diga-se de passagem, significa: “aquele que, por profissão, se dedica à arte do bailado”). Depois resolvi consultar um dicionário mais atual, pra ver se haviam repensado essa coisa do feminino enquanto uma variante do “padrão” – ou seja, do masculino: “Mulher que dança por profissão; dançarina”, me disse o dicionário online Michaelis, me deixando minimamente aliviada.
Com esse monte de clichês e sexismos que encontrei, fiquei pensando afinal o que é que vem a ser essa coisa... de ser bailarina.
Danço há mais de vinte anos, é meu trabalho. Quase todas as vezes que perguntam a minha profissão e digo “bailarina”, é sempre isso que ouço: “ai, que linda! É clássico??” E tenho certeza que nessa hora a bailarina de tutu se materializa na cabeça de quem me fala.
Eu gosto muito de questionar categorias, desrespeitar fronteiras... acho que “porquê” é das palavras que mais gosto, tenho muita simpatia pelo ponto de interrogação. Então, no dia da bailarina, convido a todos a ampliarem seus horizontes: há bailarinas que, sim,  usam tutu;  outras usam tênis, outras dançam só com as mãos, outras são descabeladas, algumas magras, outras gordas, outras altíssimas, algumas nem enxergam, outras um dia já foram consideradas meninos, biologicamente falando... e isso não faz nenhuma delas nem mais nem menos talentosa. Somos seres por muitas vezes duplamente massacrados: por sermos (ou por termos nos tornado, como disse Beauvoir) mulheres em um mundo machista e por quem acha que temos que nos encaixar num padrão, num ideal de corpo e de movimento.
Parabenizo todas as bailarinas (obviamente também aos bailarinos, mas a internet falou que hoje é dia delas, então escrevo pra vocês depois, tá?), por saber o que nossa profissão nos exige, por sentir na pele o que é nosso trabalho, de uma forma que esse meio tão difícil nos demanda.
Ah, e Chico, você nos deve uma nova versão de Ciranda da bailarina, pra colaborar com uma visão menos idealista, ok?

Fabiana Dias 

Pra comemorar, um trecho de “The cost of living”, DV8.


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